quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sensihabilidade no Cabaré

Quinta em Salvador
Rodeada de músicos
De músicas
De cordas
De sons
De arte
Dos outros
De mim
Sensação de completude
De inteireza
Fechei os olhos para sentir melhor
E me tele transportei, mas para aqui mesmo
Porque era aqui que queria estar
Assim, simples...
Assim, me entregando aos poucos
E aos poucos me sentindo parte
Um cheiro de whisky, uma luz bem posta
Um palco vazio, uma platéia cheia
Uma platéia cheia de palco
E toda essa inspiração aqui
No cabaré
Numa quinta em Salvador

(encontro de compositores no Teatro Vila Velha http://www.teatrovilavelha.com.br/index.php?/Programação-do-Teatro-Vila-Velha/)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tribal


Sábado passado, aconteceu sob a tenda do Teatro de pano (Escola Via Magia – Federação) um espetáculo de dança Tribal.

Havia tribos de diversos lugares, do Capão, da Paraíba, de Salvador, de Feira de Santana, dos EUA. Cada uma com sua identidade. Uma expressão, um figurino, detalhes. Tribal é detalhes, é estar num grupo, manter uma identidade, mas dentro desse grupo ter o seu destaque, a sua característica. E com um pouco de cada um se cria a tribo.

Arrepiei-me em diversos momentos, e me senti um pouco daquilo tudo. Lugar tão especial para mim, palco de tanto sentimento. Saudosista, lembrei-me da correria das mudanças de figurino. A concentração na confecção da maquiagem, uma arrumando a outra. O burburinho da platéia, aquele tanto de mulher no camarim, com tantos xales, batons, sorrisos, mãos geladas. E o aperto na boca do estômago, e o primeiro sinal. E o olhar no espelho, com carinho, exigente, ansioso. O segundo sinal. A oração entre o elenco, o grupo querido, cúmplice, as convidadas, figurinos arrumados na ordem das coreografias. O terceiro sinal. A platéia vai silenciando. Os olhares de apoio entre todas. A hora de entrar em cena, de olhar no olho, de passar verdade, de ser a dança.

A dança tribal nasceu nos Estados Unidos nos anos 60. E é uma mistura de diversas tribos, diversas danças. Tem influência da Dança do Ventre, da Dança Flamenca, Indiana, Afro, hip hop e tudo mais que a criatividade permitir, pois as influências vêm das diversas etnias espalhadas por todo o mundo.

É uma dança feminina, que mostra a fortaleza do feminino.

E é surpreendente! Cada mulher que entra em cena mostra um pouco de algo que não se esperava ver. Vi uma índia, uma boneca robótica, uma francesa, uma sambista e todas tinham algo em comum. Escutei um derbac, uma flauta transversal, um berimbau. E tudo isso desperta algo... existe uma identificação com algumas e um incômodo com outras. Porque tudo reflete um pouco de mim, coisas que amo em mim e coisas que me incomodam. É o que a arte pode provocar nas pessoas... Essa riqueza única, mas várias. O tanto de quantos olhos presentes. Isso é arte!

Voltei a dançar!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

"Os Cafajestes"


Fui assistir a “Os Cafajestes” no sábado, no Teatro Módulo. Lembro que era bem novinha quando estava em cartaz no Hotel Le Meridien, hoje Pestana, no Rio Vermelho. Eu achava a ideia absurda, todo aquele machismo, estava numa fase de formação de opiniões e ficava com raiva quando minhas amigas mais velhas iam e contavam as piadas divertidas e preconceituosas, que para mim não tinham a menor graça. Na verdade eu não tinha idade para assistir... e não entendia direito, com minha cabeça romântica, o sentido daquilo. Acho que isso era o que mais me revoltava, me achava a madura. Mas não podia entrar e sempre fui pequena e com cara de mais nova, não dava nem para enganar.

Mas nesse sábado, depois de tantos anos, ganhei um convite e fui assistir com uma amiga. Depois que descobri que o Texto é de Aninha Franco, adoro os trabalhos dela, fiquei ansiosa para ver. Agora com as idéias já formadas e com idade suficiente (RS), me rendi aos irresistíveis Cafajestes! E foi ótimo! A peça durou duas horas e nem senti passar.

E mais que cafajestes, eles são baianos (com exceção do paraibano Fechine) e interpretam muito bem! Interpretam muito bem os homens baianos que são diferentes dos outros do mundo inteiro!

Eles precisam de auto-afirmação o tempo inteiro, são assim os nossos homens! E tolas as mulheres que não entram no jogo deles... é tão fácil! E até divertido deixar que eles pensem que decidem, que mandam, que são os donos!

Os cafajestes são quatro tipos de homens, bem diferentes, mas iguais ao mesmo tempo. O grosseirão, que não ta nem aí, que se denomina “o lascador”, o em conflito, que é apaixonado, mas não pode admitir para os amigos, para não ser motivo de piada, o sedutor cachorrão, que faz a mulher pensar que está apaixonado, com o discurso de querer casar e ter filhos, mas é só ela olhar para o lado que o discurso é disseminado por todo público feminino que estiver presente. E o espalhafatoso que ganha território no grito. São quatro personalidades que estão presentes pelas ladeiras históricas da turística Salvador.

E esses arquétipos se vestem de terno ou de bata, usam cavanhaque ou nada, são advogados ou garçons, são encontrados em todas as gerações, enchem os bares, mercados, e salões de beleza. Trabalham, bebem, vão ao cinema, vão para o baba dia de quinta, pagam as contas no quinto dia útil do mês, fazem bicos, compram flores, riem dos filhos, choram por eles, gostam do cheiro delas, dançam com elas, iam a fonte nova, já cantaram num karaokê, já patinaram no shopping, já ficaram horas no telefone, já deram bolo por beber demais com os amigos, preferem dirigir, mesmo o carro sendo dela, já fingiram gostar de comida japonesa, já tiveram que vestir um terno para ir num casamento de uma amiga dela, já fingiram ver novela só para ficar ao lado dela, já ficaram de cara fechada no shopping por ela demorar de escolher uma roupa. Já sentiram saudade,falta, e até choraram por alguém.

Esses arquétipos estão nos nossos trabalhos, nas nossas ruas, até nas nossas casas!

Mas o mais interessante é que eles reclamam, mas não vivem sem nós mulheres!

É muito bom ver espetáculos bons aqui na minha cidade, onde valorizam muito o que vem de fora e nem sabem que aqui temos riquezas fantásticas. Na minha monografia de conclusão de curso, formei em Relações Públicas pela UNIFACS, pesquisei porque o público soteropolitano não valorizava o teatro local. E pasmem, descobri que é simplesmente por falta de cultura! As crianças não são educadas a irem aos teatros. Tive essa sorte! Minha mãe sempre me levava aos teatros e cinemas da cidade. E isso ajudou muito na minha formação.

“Os cafajestes” é um espetáculo com algumas piadas manjadas, mas contadas de maneira impar. A iluminação é muito boa e o figurino envolvente. Os meninos são carismáticos e bons de improvisação. Dá vontade de tomar uma depois para uma DR básica! RS

A casa estava cheia nesse retorno, e fiquei muito feliz de assistir a um clássico do nosso Teatro. Recomendo a todos, mas se for acompanhada, tome cuidado, você pode descobrir um lado do seu respectivo que temia existir. Se for sozinha, nunca sente na primeira fileira, ou correrá o risco de passar por uma experiência intrigante de subir ao palco e dançar com um cafajeste sedutor e lembrar quantas vezes já fez isso na vida, em outros palcos...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Festejos Juninos


Hoje foi a final do concurso de quadrilhas na Praça Municipal. Foi emocionante ver todas aquelas cores e movimentos, embalados por um som que toca nossas lembranças. Nos remetendo à nossa infância, quando nos fantasiávamos de caipiras com aqueles vestidos coloridos, cheios de babados, fitas no cabelo, chapéu de palha com tranças cumpridas presas a eles. Ensaios na escola e a agonia de ficar com o “parceiro certo”. E sair para comprar fogos com o pai. Aquele cheiro de pólvora, as mesmas recomendações de como soltá-los. E a maquiagem cheia de bolinhas nas bochechas por cima daquele blush cor de rosa.

As comidas típicas deliciosas. Os sabores também estão tão vivos... A canjica da vó, o amendoim cozido da tia, o bolo de carimã, o milho na brasa. A fogueira enorme e os fogos maiores que só o pai e o tio soltavam, eram perigosos para criança. Mas eram lindos de se ver.

E estava lá na Praça Municipal quando me dei conta quanto tempo não sentia aquilo. Já havia pelo menos uns 17 anos que não passava tal festa em Salvador e nos interiores que ia não via muito essas tradições, nem sei se ainda são cultivadas, eu ia ver as bandas nas praças, cheguei a ir a alguns forrós fechados, mas o fato é que a tradição estava um pouco perdida para mim. Fiquei muito feliz de sentir o coração bater diferente hoje quando, mesmo que trabalhando, parei um instante para ver uma apresentação inteira de uma quadrilha, que por sinal foi a campeã, a quadrilha Asa Branca, daqui de Salvador mesmo. E foi ali, naqueles 25 minutos de espetáculo, que senti todo esse resgate e bem aqui na minha cidade.

O São João sempre foi a minha festa preferida do ano, porque é um evento aconchegante, onde existe romantismo, histórias mais próximas da realidade daqui, regional. É um evento simples e rico em detalhes. As quadrilhas são uma tradição européia, mais precisamente francesa, mas trazida pelos portugueses, inclusive esse figurino exuberante. No século XIX ela estava presente nas grandes festas de toda a Europa. A zabumba é uma marcação que dita o ritmo das batidas dos nossos corações, como os tambores africanos que falam com os nossos corpos. E as comidas com influência indígena, cheia de milhos, cocos, farinhas.

É também uma festa de santos, três para ser mais exata. Santo Antônio, São João e São Pedro.

Foi realmente uma experiência rica poder apreciar um pouco desse resgate cultural. Cheia de histórias fortes de gente simples e idealistas. Como Lampião, Gonzagão e tantos outros que nos remetem a tais festejos.

Uma mistura de fervor do nosso povo com a tradição dos santos só podia resultar em algo tão singular: Festa de São João.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Reencontro

A lua quase cheia
O copo quase vazio (risos)
Um violão, um violino, uma flauta
Um vento frio, o calor do vinho

No caminho, vagalumes
Na estrada, diversidade
Nos nossos rostos, o sorriso
Nas nossas palmas, felicidade

Diante de tanta beleza, uma nova história começou
Musicas se entrelaçaram, olhares cúmplices brindaram
almas dispostas se encontraram (ah, as amizades...)
e o cuidado brotou

Diante de tantos símbolos, Cada um contribuiu
Diante de tanta verdade, cada um consentiu
Diante de tanta poesia, senti um arrepio
E diante de tanta doçura resgatei o que sumiu

Dominique Meirelles
04/01/2010

Foi o vinho


“Foi o vinho”
o vinho é usado como desculpa

“para tomar um vinho”
como pretexto

“combina com vinho”
como complemento

ele sempre está presente nos dias dos namorados, nos encontros com amigos, no Natal, na confraria com as amigas, enquanto prepara o almoço de domingo, enquanto se arruma para sair na sexta a noite. Esteve até na Santa Ceia!

Forte, cor de vinho, aromático, saboroso, brinca com língua, delicia os pensamentos, aquece a alma, o corpo, os sentidos, o prazer. Faz rir, faz brindar, faz falar de coisas íntimas, faz chorar, faz gargalhar, faz _ _ _ _ _ _ _ (...), faz ter vontade de um monte de coisas (...), faz pigarro, faz a boca ficar roxa (em alguns), faz lembrar, faz esquecer, faz sarar, faz magoar, faz sentido (ou não), faz bem, faz corar, faz ressaca, faz sonhar, faz dormir, faz escrever.

Ele aguça, desperta, liberta, provoca, embriaga de um monte de sensações. Faz bem ao coração, aos músculos, ao sorriso, à poesia, aos encontros, aos desencontros, à magia, aos rituais, às sextas-feiras, terças, quartas, domingo na missa.

Ele combina com queijo, com beijo, com cheiro, com desejo, com festejo, com estar inteiro, com pão e azeite, com taça, com cortiça, com marcas, com descobrir, com encobrir, comigo.

Bebe-se vinho todos os dias.


Dominique Meirelles
um dia desses de novembro/2009