domingo, 24 de janeiro de 2016

Não dê papel e caneta a uma geminiana numa lua rosa cheia

Ela é tão criativa que já conseguiu inventar até o prato preferido dele. Ela já montou na sua inspiradora cabecinha diversos diálogos com diversos desfechos, com expressões, choros, risadas, casametos, descasamentos, filhos, sogras, cunhadas, festas, montagem de AP, domingo no AP, a hora de acordar e dengar na cama, o momento do vídeo game com os amigos, o vinho, a marca do vinho na mesinha de centro, as escolhas, o cuscuz com ovo. O dele com gema dura e o dela com gema mole. Ela pensou em como seria o não inicial, a dor e imaginou também se fosse recíproco e as conseqüências disso... Ela viu eles planejando as viagens, fazendo as contas, o mercado, o jantar, o filho. Ela viu os desacertos, as birras, os silêncios. Ela visualizou até quando trouxeram um cachorrinho abandonado p casa.. e cuidaram dele p dar para alguém.. e talvez não tenham conseguido dar p alguém.. e ela viu tantos acertos e tantas possibilidades que quando percebeu que ele não estava disposto a enxergar qualquer coisa que seja, teve que dizer adeus. Adeus a ele e a todas as possibilidades.. antes que fosse tarde e criasse tanto que não fosse mais possível apagar... E agora, cata os cacos, os papeis, os diálogos, taça de vinho da cabeceira, a lata de tônica da mesa, as fotos salvas no HD, põe numa trouxinha imaginária (ela continua criativa) e se desfaz.. cada dia acha algo que tinha que ter ido na trouxinha.. então leva lá, onde deixou a trouxa. E aos poucos vai entendendo a realidade. A conversa com o taxista, o batom vermelho, o violão com os amigos, o traço piscando na tela, esperando novas construções... novas idéias... e a vida segue. E ela continua imaginando e se policiando para não pôr o personagem da trouxinha em alguma nova cena, erro de continuidade não cabe para profissionais das invenções. Em breve ela conseguirá tirá-lo totalmente do contexto e seguir se reinventando.. e talvez até se abrindo para novos personagens.